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Por que ser multitarefa pode ser uma ilusão (e como criar foco de verdade)

16/02/2021   Fonte: Exame

Transtornos ansiosos, insegurança e o próprio home office trazem distrações para o cérebro humano, que já é naturalmene agitado. Mas há uma saída.

Seja no dia a dia do trabalho ou resolvendo as questões pessoais, o termo multitarefa pode até ser visto como uma habilidade positiva. Mas a história não é bem assim.

Uma pesquisa feita por Joshua Rubinstein, Jeffrey Evans e David Meyer fez experiências com jovens adultos que alternavam entre diferentes tarefas, como resolver problemas ou classificar objetos geométricos. Feito em 2001, ela é a principal referência no que diz respeito a como o cérebro é afetado ao trocarmos de atividades continuamente.

Em todas as tarefas, os participantes perderam tempo quando tiveram de mudar de uma para outra. À medida que elas se tornam mais complexas, os participantes perdem ainda mais tempo.

Isso acontece porque o cérebro não se concentra em mais de uma coisa por vez. Ele faz pequenas e rápidas alternâncias de foco, o que dá a impressão para a pessoa de que ela está mantendo a atenção em várias coisas. Mas isso é uma ilusão.

A cada troca de atenção, há um tempo necessário para o cérebro se reconectar com a nova atividade, o que consome energia mental.

A pesquisa, que foi fundamental para compreender a dinâmica cerebral do foco, pode ser usada para desconstruir a fantasia da multitarefa, mas não nos ensina como desenvolver o foco e a concentração. Para isso, valem algumas outras dicas.

“O foco é uma habilidade comportamental, desenvolvida para a pessoa conseguir se manter sob o controle de alguma coisa, que pode ser um relacionamento, o trabalho, a tarefa, um livro. No longo prazo, ele gera o que chamamos de produtividade”, explica a psicóloga e professora da The School Of Life Desirée Cassado.

O foco é uma habilidade comportamental justamente porque ele não é “natural”, explica Desirée. Nosso cérebro tem uma herança de estar em alerta para possíveis riscos e ameaças, uma herança genética puramente instintiva.

- De olho nos riscos

No mundo contemporâneo, a presença de um chefe que causa desconforto e uma situação de imprevisibilidade como a da pandemia são exemplos desses “riscos” que o cérebro fica atento e faz com que a pessoa desloque sua atenção.

É por isso que profissionais com quadros ansiosos têm dificuldade de concentração. A ansiedade nada mais é do que uma generalização das ameaças, reais ou imaginadas.

“O foco depende de uma habilidade cognitiva muito difícil de se conseguir, que se perde facilmente, porque nosso sistema neurológico não está preparado para estar sob controle de algo por muito tempo. Ele busca a sobrevivência, e vai ficar buscando o tempo inteiro por possibilidades de riscos”, explica Desirée Cassado.

A psicóloga destaca que a mente tem mais dificuldade de se concentrar quando ela está dividida, “de olho” em um risco que vem de fora e tentando se ocupar com algo interno, que é a tarefa e a concentração.

Uma das estratégias é voltar a atenção para fora, para o momento presente, como prestar a atenção nos pés colados no chão, na respiração, no sabor que está na sua boca. Sem isso, a atenção é dissipada e fica mais difícil completar uma tarefa.

“A gente pode treinar, como músculo. É uma coisa que se aprende. Tenta falar para uma criança de quatro anos para preencher uma folha completa com palavras. Ela não consegue ficar ali 10 minutos parada. Ela vai aprender isso com o tempo.”

Para manter a concentração ao longo do dia, o intervalo é essencial, mas é importante observar para ele não virar uma procrastinação. Para isso, o intervalo deve ser contado e ter 10 a 15 minutos, após 45 minutos de foco, em média.

Além disso, o ambiente deve ser o ideal. Luz adequada, ambiente com poucas distrações e boa ergonomia são opções. Também é importante selecionar um momento do dia em que você sente que está mais disposto para encarar uma tarefa desafiadora.

Desirée também dá outra dica: é importante se antecipar às nossas esquivas e se conhecer. Saber se é uma mensagem no celular, a vontade de ir buscar água ou de comer algo que podemos usar como justificativa para procrastinar.

- A exceção da multitarefa

Como tudo na vida, existem exceções. Há atividades em que é possível ser multitarefa. Nós só conseguimos fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo quando uma delas já é um hábito ou uma habilidade que já conhecemos, como dirigir, lavar louça, andar de bicicleta.

Quem sabe fazer isso há um bom tempo, consegue manter a tarefa enquanto conversa, bebe uma bebida e até olha no celular.

“No livro Rápido e Devagar, do economista comportamental Daniel Kahneman, ele explica que quando a gente faz algo pela primeira vez, aprendendo algo, usando o córtex pré-frontal, a gente utiliza uma estrutura neurológica que precisa de muito esforço para se apropriar. Ela é lenta. Uma vez que a gente aprende, ela fica automática e exige menos do cérebro. A gente, então, só consegue ser multitarefa quando algo é automático para a gente”.

- O foco no home office

Devido à pandemia, mais de 10% dos trabalhadores brasileiros chegaram a trabalhar totalmente de forma remota em 2020, de acordo com Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar de reconhecer as vantagens do modelo, a aprovação dos brasileiros pelo home office oscilou durante a pandemia. Entre uma das fortes reclamações está a dificuldade em se concentrar.

O foco não pode ser utilizado nas oito horas completas de trabalho, já que ele precisa de intervalos e é uma energia finita. Uma dica dada por Desirée é alternar atividades complexas e de reflexão com outras mais automáticas.

No caso do home office, é importante sinalizar para o corpo que você está no ambiente de trabalho, como colocar uma roupa diferente, além de ter um ambiente que pareça o ambiente de trabalho.

É preciso de um momento de preparação para entrar no trabalho, e para sair. E até perfume pode ser utilizado. Seus colegas não vão sentir do outro lado da tela, mas se ajudar na concentração, por que não?



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